RESPOSTA: Minha querida, li seu e-mail com muita atenção observando algumas lacunas em sua fala. Agradeço por ter enviado seu e-mail e a coragem acima de tudo de buscar um conselho ou mesmo um primeiro contato em relação ao momento que vem passado.
O que observo é o medo que você tem da vida, e faço uma pergunta: Será que a vida também antes mesmo de conhecer seu marido tenha agredido tanto você? Será que a vida apertou seu pescoço de criança com tanta força que você se sentiu para sempre frágil e teve medo de não conseguir sobreviver?
Afinal, se seu marido é essa essência constante fúria em ponto de explosão à qualquer momento, e assim ele assusta menos que a vida, é sinal que a vida parece mais mortífera do que ele.
É como se, ao lado desse homem que paga as contas e se responsabiliza oficialmente pela família, você estivesse mais segura do que no rodamoinho da vida. É claro que não são as contas que contam. O dinheiro é um fato real, mas é sobretudo um dado simbólico. Seu marido paga, sustenta, “protege”. Ele é o pai.
Esse pode ser o ponto. Talvez, como a criança com seu pai, você tenha dado, inconscientemente, a seu marido o direito de posse da sua vida e corpo. O direito, até, de maltratá-la e mesmo em algum momento de vocês na sombra agredi-la. E como criança com seu pai, apesar do medo, você não consegue separar-se dele.
E mais ainda, como fazem as crianças, que tem mais facilidade para se atribuírem culpas do que para reconhecerem os defeitos dos pais, é provável que você no fundo se sinta culpada pela tentativa de maus tratos, achando que a atitude ou um excesso seu provocaram o surgimento do mostro; monstro que, na sua imaginação culposa, não tornará a aparecer se você não provocar.
Você sofre ao lado dele. Vê outras mulheres que se separam, e pensa que essa seria a melhor solução. Talvez alguém já a tenha aconselhado nesse sentido. E é aparentemente tão óbvio o caminho, que você própria se detesta por não ter coragem de segui-lo.
Não se deteste. A sua não é falta de coragem. É falta de crescimento. Para poder deixar seu pai/marido, você precisa crescer, precisa antes deixar a criança que teima em comandar suas ações.
Você pode fazer isso examinando o passado, procurando o momento, ou os momentos que a vida a assustou a ponto de congelar seu lado adulto que surgia. Esse lado está em você. È só recuperá-lo. Se achar melhor um acompanhamento terapêutico pode ajudá-la neste processo e aos poucos sem sustos você poderá se perceber... Um abraço.
PSICANALISTA RONALDO DE MATTOS
em 26/04/2014