A minha vida sexual é controlada por meus pais...
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Tenho 25 anos, mas devido à rigidez moral dos meus pais, que não admitem sexo antes do casamento, continuo virgem.
Eles têm boas intenções, mas atreladas a uma visão do mundo retrógada. Deixaram de acompanhar a evolução dos tempos e dos costumes, tornando-se repressores e até prejudiciais para mim e minhas irmãs mais novas.
Apesar da idade, minha experiência sexual se restringe a toques e caricias. Os namorados que tive ao longo dos últimos anos não se viram na obrigação de aceitar esse estado de coisas.
Foram embora e não posso dizer que estejam errados. Meu atual namorado considera a situação compreensível, mas não aceitável. Diz que devo procurar fazer valer minha vontade.
Eu já tentei falar com eles, mas não querem nem saber dessa conversa. Eu ainda estudo e apesar dos meus dois empregos dependo financeiramente deles, não tendo condições de ir morar sozinha e viver a minha vida.
Resposta
O difícil da sua situação é que você não sabe ao certo quais são os seus direitos no universo doméstico. Intui que os tem, mas não saberia dizer exatamente quais são eles. E percebe, desnorteada, que os seus direitos como cidadã, maior, vacinada, trabalhadora, não têm correspondente nos seus direitos como filha. Há uma defasagem que você não está sabendo como preencher.
Por outro lado, será que tem noção exata dos direitos dos seus pais? Está na Bíblia, respeitar pai e mãe. Mas o que é respeito?
A tendência é manter o hábito da infância e confundir obediência com respeito, acreditando que se respeitam os pais quando se acatam todas as suas exigências.
Na idade adulta, porém, a coisa muda de figura. Respeito é a maneira de lidar com o pensamento e as posturas deles, sem deboche ou agressão. Adotar, ou não, esse pensamento é facultativo.
Se, por exemplo, você levasse para casa amantes variados, alardeando à mesa de jantar as suas façanhas sexuais, essa seria uma falta de respeito.
Já o fato de você se abster sexualmente tem que ser repensado dentro de outros parâmetros
Dificilmente o salto do jovem para a idade adulta é acompanhado por uma modificação do comportamento dos pais. O filho que não sai de casa continua sendo tratado como criança, devendo prestar contas dos seus atos e agir de acordo com as regras estabelecidas por pai e mãe.
O controle se torna ainda mais severo em se tratando de filha, pois muitos pais se consideram não só responsáveis pelo bem-estar, como guardiões da sua virgindade.
A dependência econômica acaba equivalendo a um prolongamento da dependência moral. E, tenha o filho a idade que tiver, estará sempre sujeito a ouvir a frase fatal: - “enquanto você estiver na minha casa, tem que me obedecer.” Um preço nada barato por teto e comida.
Essa acaba sendo uma situação comum e muitas famílias, com os pais querendo se impor, e os filhos tirando o corpo fora. Resta ver por que você ainda não tirou o corpo fora.
A vida sexual é um dos últimos redutos de privacidade do ser humano. O que a pessoa faz da sua sexualidade não tem que ser fixado em edital na praça.
Você poderia perfeitamente ter levado as caricias mais adiante, sem notificar a família. Isto é, desde que tivesse certeza de estar fazendo a coisa certa.
O que transparece no seu e-mail é que você quer a autorização dos seus pais para poder ter relações sexuais. Tentou até falar com eles, não exatamente para abrir o diálogo, mas porque queria que eles a liberassem para o sexo.
Essa é uma atitude infantil. E mostra que não são apenas seus pais que tratam como criança, mas é também você que presta ao papel. Há, portanto uma concordância entre vocês que mantém essa estrutura de pé.
Você pode argumentar que não quer ir contra a vontade deles, com medo de que a descubram e a forcem a sair de casa. É um bom argumento, mas pouco sólido.
Pois você mesma diz que a intenção deles é boa, ou seja, são boa gente, apesar da intransigência. Se são boa gente, dificilmente poriam uma filha no olho da rua. E além do mais, por que descobririam?
Descobririam se você fosse pouco cuidadosa. E você seria pouco cuidadosa se, sentindo-se culpada, desejasse ser descoberta e castigada, expiando assim sua culpa.
Chegamos a conclusão de que você não leva sua vida sexual normalmente porque não tem certeza de que seu direito à sexualidade seja tão forte a ponto de autorizá-la a contrariar o desejo dos seus pais.
Talvez uma parte do pensamento deles, que devem estar lhe inculcando desde menina, permaneça entranhada em você apesar dos conceitos de modernidade que preferiria adotar.
Você já conversou com suas irmãs sobre isso? Não sei que idade elas têm, mas se a diferença entre vocês não for muita, poderiam fazer frente comum.
E se já tentou falar com os velhos, por que não tentar falar com as jovens e ver se há identidade de pensamento entre vocês?
Examine seu coração, questione seu desejo. Seu namorado tem razão, está na hora de fazer valer sua vontade. Resta saber qual é ela.
Ronaldo de Mattos - Psicanalista Clínico